Sobre_Viver em comunidade — por Miriam DelaCruz¥

Miriam Cruz
10 min readApr 21, 2024

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ESTAMOS VIVOS!

Uau! Estamos ViVos!!! E quando (Re)Encontro alguém e a pessoa me pergunta: - Como você está? É isso que eu respondo: -VIVA! E hoje em dia só TUDO isso já é motivo o suficiente para ser grato. 🙏🏼

Vocês mal podem imaginar o quão desafiador está sendo parar aqui AGORA e escrever esse texto, organizar minhas ideias e fazer uma partilha mais profunda de tantas vivências e aprendizados desses últimos tempos…

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Tem o turbilhão de distrações da vida urbana e barulhenta de São Paulo; O processo de Digitalização ao qual estamos em transição, que torna a leitura e a escrita cada vez mais desusual, (em detrimento a outras formas de expressão e entretenimento mais instantâneas e recheadas de tentações)…

Fora o plus de eu ter perdido o meu laptop em um incêndio🕯️em Abril de 2022, acidente que revolucionou a minha vida (mais essa história avassaladora eu conto em alguma outra ocasião mais propícia, na qual eu possa abordá-la em detalhes, com todo o cuidado que ela requer). E apenas agora no início de 2024 consegui um novo laptop.

Foi todo um processo de regeneração e restituição… Aprender a me refazer das cinzas… Um verdadeiro renascer da Fênix.

E em sintonia com a filosofia do “Feito é melhor do que Perfeito” reuni algumas partilhas e reflexões sobre InTeNsAs 🔥Vivências em comunidade na Alemanha, onde tive a singular oportunidade de morar por 3 anos e verdadeiramente mergulhar na cultura germânica, ao ponto de desenvolver minha própria personalidade Alemã. (Período de 2020–2023 // Passei por diversos lugares // Experiências temporárias).

GeNaU! §Exatamente!

Conto com a compreensão de vocês, pois faz tempo que não escrevo e sinto uma certa urgência em fazer mais partilhas, antes que elas acabem caindo no “nimbo do esquecimento” e no mínimo já fica esse “rascunho” e “obra prima” para quem sabe num futuro eu poder voltar e aprimorar.

#Partiu Desbravar o Mundo — Los geht ‘s! Vamos lá!

Na minha experiência de ir morar fora, em uma cultura com diversos aspectos extremamente contrastantes com a minha cultura brasileira, fui contemplada pela oportunidade de descobrir uma nova versão de mim mesma, fora de grandes influências do contexto ao qual estava inserida, e foi realmente revelador diversos aspectos do meu Ser que puderam emergir, pois muitas vezes dentro do núcleo familiar e realidade onde nascemos, somos carimbados com padrões e arquétipos que podem ser bem desafiadores de se desidentificar.

BAH! 😜

A meu ver, viver em comunidade é um experimento que estamos criando, experienciando e aprendendo simultaneamente e os resultados são imprevisíveis e muitas vezes surpreendentes, tanto positiva quanto negativamente.

Indo mais além, acredito que estejamos buscando e resgatando formatos de vida em sociedade, como grandes civilizações no passado já viveram. Comunidades altamente organizadas como Maias, Incas, Astecas, Povos Originários do Brasil…

Sonneberg //Alemanha

O Dia a Dia

Eu criei uma paródia em alemão, de uma música bem conhecida na Alemanha, que resume em algumas sentenças as principais tarefas fundamentais do nosso dia a dia em comunidade. (Acompanha tradução em português).

Paródia da Música Eins Zwei Polizei

Vida em Comunidade

1,2 Círculo da Manhã

3,4 Limpeza aqui

5,6 Ir buscar madeira

7,8 Preparar o almoço

9, 10 Ir dormir / Ou ir para a fogueira

Mo-Do — Eins Zwei Polizei (Official Video) (youtube.com)

Self-Care // Auto Cuidado

Um dos papeis que eu assumi dentro da vida em comunidade foi o de chamar a atenção para a importância do CUIDAR. Cuidar do espaço, cuidar uns dos outros, autocuidado. E foi um grande sacrifício criar esse momento registrado na foto “Spa Day”, e não acabarmos sendo simplesmente absorvidos pelas demandas de trabalho mão na massa (o que muitas acabava acontecendo). E foi tão lindo quando paramos para nos cuidar, fazer skin care, pentear o cabelo uns dos outros… Resgatar nossa DIGNIDADE.

“Spa Day”

🌀Super-Power: Um dos meus superpoderes era encarar tarefas que a maioria das pessoas não tinham disposição para se comprometer, e ainda fazer isso em grande estilo. °•° Partículas de consciência.

Momentos Únicos

Na maioria dessas experiências, estávamos em ambientes rústicos, com estrutura mínima…

Banheiro seco

No qual umas das tarefas diárias era ir buscar água na fonte todos os dias para abastecer o acampamento (água necessária para as coisas mais elementares, como cozinhar, lavar louça, abastecer a ducha de banho, regar as plantas e etc.).

WE HAVE THE WATER! ∆ Pure ∆ Água PURA!!

Em contrapartida existia uma imensidão de possibilidades e oportunidades de termos um contato profundo com a natureza e sermos surpreendidos por momentos verdadeiramente SUBLIMES…

Mehr… Vacas de Divinas Tetas§

👁️Iceberg à vista

Hora de mudar a direção. Foi crucial saber a hora de pular fora do barco, após tentar avisar o Capitão que havia um iceberg à frente, mas sem grandes repercussões pela falta de _Humildade_ em ouvir.

E o que me restou foi reunir toda a minha coragem e me jogar de volta no Mar da Vida… Nadar sozinha… Lutar primeiramente pela minha sobrevivência. Antes assim, do que me chocar contra a realidade que já havia visualizado lá na frente, e acabar colhendo consequências ainda mais drásticas e até mesmo sem volta… Seríssimo!

Existe um romantismo sobre morar em comunidade que é um grande MITO. Na realidade é extremamente complexo, frágil, visceral. Não acho que qualquer pessoa realmente esteja pronta para encarar o que uma experiência como essa exige. É algo que requer um perfil, habilidades, soft skills. E é preciso tomar muito cuidado com o lugar, pessoas e todos esses detalhes, pois já vimos cada escândalo por aí… E podem serem gerados traumas profundos.

👁️Sujeita a erros e enganos, essa é a minha percepção atualmente, e nem de longe se trata de uma verdade absoluta, apenas o meu ponto de vista com base nas experiências que vivenciei até hoje.

O Perfil de quem busca viver em comunidade

Um dos aspectos que pude perceber é que de modo geral, o perfil das pessoas que buscam viver em comunidade, são aquelas adeptas a uma vida mais alternativa, que costumam ter dificuldade de se enquadrarem no sistema tradicional da sociedade, às vezes são vistas como a “ovelha negra da família”.

Acontece que na convivência diária, muitos dos padrões mal resolvidos importados dessas relações, querendo ou não, acabam também se revelando nos contextos em comunidade. (Eu sei que essa abordagem ainda está rasa, pode soar polêmica e se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é a não generalizar. Na minha própria experiência eu encontrei várias “exceções à regra” e até mesmo pessoas que eram opostas ao estereótipo do qual supostamente correspondiam).

Mas é uma percepção que eu gostaria de destrinchar, trocar ideias, debater com outras pessoas. Ampliar minha opinião sobre o assunto…

E que me levou a levantar algumas questões, tais como:

- Até que ponto os papeis desempenhados na comunidade seriam sustentável a longo prazo?

- Até que ponto essas habilidades eram autênticas, e/ou também estimuladas pelo ambiente fértil da comunidade?

- Até que ponto os padrões enraizados em algum momento também se revelariam?

Referências do livro Os Deuses e o Homem //Jean Shinoda Bolen

Nas minhas sessões de terapia Junguianada, fui recomendada a ler o livro “Os Deuses e o Homem” e iniciei um estudo mais aprofundado do arquétipo do Dionísio que trouxe muita luz para algumas dessas nuances.

Ele merece mesmo um estudo aprofundado, principalmente se você está desbravando esse caminho de vida em comunidade, mas deixo aqui alguns trechos:

Os Deuses e o Homem //Jean Shinoda Bolen

Arquétipo Dionísio (ou Dioniso)

“Ao deixarmos para trás a cidade e nossas preocupações com o trabalho e as responsabilidades, buscando uma comunhão com a Mãe Natureza, também podemos entrar em contato com Dioniso. Ele pode vir até nós, quando estamos na natureza e nos sentimos integrados a ela. Quando abandonamos a nossa percepção consciente habitual do tempo e dos quilômetros da viagem e nos entregamos à experiência, somos transportados para outra dimensão, em que sentimos o êxtase em nosso íntimo”.

A criança divina

“A sensação pessoal de que a “minha” vida tem um sentido sagrado, ou de que há elementos tanto humanos quanto divinos na “minha” psique, ocorre quando a pessoa entra em contato com o arquétipo da criança divina, o que muitas vezes prenuncia o início da jornada espiritual de adulto ou seu caminho de individuação”.

Filhos

“O homem Dioniso é em geral “meninão” e, por isso, costuma fazer muito sucesso com os filhos dos outros. Já os seus próprios filhos passam frequentemente por experiências frustrantes”.

Não temos _Controle_ mas temos >Escolhas<

Eu gosto sempre de me lembrar que me colocar nesses contextos foi uma _ESCOLHA_ que encaro como uma preparação para os desafios do turbulento mundo presente. Um convite para sair da minha zona de conforto, aprender a conviver com outros seres humanos em um elevado grau de envolvimento e complexidade, exposta a desafios extremos, tanto de convivência, quanto oferecidos pelo o meio ambiente. |||R_a_D_i_C_a_L|||

Você está pronto para ir fundo?

E por ter vivenciado todas essas adversidades, hoje em dia valorizo muito mais as coisas simples do nosso cotidiano, como a água que sai da torneira para lavar louça, um chuveiro quente para tomar banho em casa, uma cama macia… TV com Netflix, Eletricidade e Internet à vontade então… São luxos!

Sinto que curei muito das minhas carências materiais. Me tornei uma pessoa |||MINIMALISTA||| e realmente transformei minhas necessidades de consumo. Atualmente existe uma Materialidade Fina que me satisfaz.

Diferenciais que fizeram toda a diferença

Vir de uma família amorosa, consistente, espiritualizada, que sempre me apoiou, (((e que inclusive foi lá na Europa me visitar e experienciar uma mega aventura viajando de Motorhome por 1 mês sem destino fixo))), fez TODA a diferença! Principalmente para eu perceber quando as coisas chegaram em um ponto crítico, (ausência de base material, emocional espiritual, propósito comum, cuidado, afetos e etc.).

“We don’t have a plan, but a big finish!” //“Não temos um plano, mas um grande final!”

Outras experiências que eu também já havia vivenciado em contextos de comunidades me ajudavam a identificar quando, por exemplo, a tomada de decisão estava centralizada; A ter senso crítico para refletir e questionar as dinâmicas de convivência…

Toda a minha experiência de vida e base familiar foram fundamentais para me guiar em mais uma aventura de imersão de vida em comunidade, dessa vez em outro país e com muito trabalho mão na massa.

E esses elementos me auxiliaram a:

- Primeiramente não me perder de mim mesma;

- Saber colher aprendizados (mesmo quando tudo parecia caótico e sem sentido);

- Saber me posicionar, exercitar a musculatura de respeitar os meus limites;

-Ter muito cuidado com ideias fanáticas e radicais sem fundamento legítimo, que pregam sacrifícios e etc. em prol de um objetivo maior e que muitas vezes na realidade ocultam interesses individuais de apenas alguns. Muito cuidado com isso meus Amados!

Viver em comunidade ou não viver em comunidade? Eis a questão.

Se eu viveria uma experiência em comunidade dessa dimensão de novo?

- Talvez… No momento presente: -Não! ( ) JA oder (X) NEIN

Ainda estou decantando, digerindo, maturando a intensidade de aprendizados vividos. Tudo isso já foi um grande INPUT. Mas no futuro… — Quem sabe!?

Eu ainda não perdi a minha fé em comunidades nesse sentido, pois eu acredito que existem tantos formatos e possibilidades… E eu brinco que depois de ter experienciado a vida em comunidade na Alemanha, já estou calejada e preparada para outras experiências do gênero em qualquer outro lugar do mundo. HaHaHa

Retorno à Origem

Está completando exatamente 7 meses que estou de volta ao Brasil. E continuo nesse processo de (re)aculturamento. Costurando as vivências, integrando, criando pontos de continuidade, ancorando os aprendizados nas minhas raízes…

E sem dúvida alguma eu consigo ser extremamente grata por todas as experiências vividas e chegar a conclusão que com todos os desafios, dores e delícias:

Valeu a pena! 🪶A galinha toda vai…

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo de transforma”. — Lavoisier

Oração da Serenidade

Eu não me arrependo de forma alguma. Mas precisei parar e começar a olhar para as coisas que precisavam ser modificadas, e isso tudo me trouxe de volta até aqui.

Eu aceito as coisas como foram. Mas tive coragem para começar a modificar o que era necessário, acionando a minha sabedoria em distinguir uma coisa da outra.

E assim foi inscrito no livro da vida.

LESHANAH TOVAH🙏🏼

Tudo vale a pena quando a Alma não é pequena. — Fernando Pessoa

By: Miriam DelaCruz ✝️📋Gestora de Eventos de Formação🖌Escritora por Vocação💝Artesã de Coração🎨«Fazendo Arte E Sua Parte»

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Miriam Cruz

.___<By Miriam Dela Cruz ✝️>___. 📋Event Management by Graduation 🖌Writer by Vocation 💝Artesan by Heart 🎨«Making Art And Your Part» @makingartandyourpart